quinta-feira, 16 de junho de 2011

MEGA POST: LEGIÃO URBANA - BOX SET

Olá Pessoal, depois de algum tempo sem postar nada (por falta de tempo mesmo), resolvi fazer um postagem sobre uma banda nacional (eu nunca tinha colocado nada de bandas nacionais), como me pediram bastante, então pensei e resolvi fazer sobre a minha banda favorita (nacional) e que deve ser de muita gente também, a LEGIÃO URBANA.

Foto de 7 de dezembro de 1984.

SOBRE A BANDA
Vindos de uma juventude punk forjada sob o olhar da classe média de Brasília, centro do poder no período militar, um grupo de amigos, conhecidos como a Turma da Colina, tinha muito para dizer. Cultos, com formação em bons colégios, viajados, eles foram se encantar logo pela anarquia punk. Natural numa cidade em que a impunidade era comum para quem está tão próximo ao poder. A Legião Urbana surgiu nesse cenário, na sequência de dois projetos musicais cujos nomes eram tão opostos quantos complementares: Aborto Elétrico e Trovador Solitário. Em comum entre eles, a figura de Renato Russo, cuja personalidade poderia ser deduzida a partir destas personas artísticas que ele havia criado e batizado. Da Turma da Colina, se juntaram a ele Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos. Com o trio, o núcleo criativo se constituiu e daí uma nova história começa para os três.
Brasília era ainda uma ilha cultural em relação ao resto do país. Afora a genialidade da arquitetura de Oscar Niemeyer, até 1978, a  história curta da nova capital não lhe atribuíra ainda nenhum momento particularmente brilhante nas artes, até porque não havia sido formada a primeira geração de artistas brasilienses. Estes estavam surgindo, justamente ali, com a cara que aquelas duas primeiras décadas tinha tido na cidade. Começa-se, então, a saber que a capital tem um olhar muito particular sobre o país que a cerca. Naturalmente, esse ponto de vista se apresenta pelos gritos jovens. O primeiro alvo, lógico, era o vestibular. Passando por ele, Brasília também entraria na vida adulta. “Química” era um dos hinos do Aborto Elétrico e foi a primeira canção daquela turma a ser gravada em fonograma e lançada em LP e K7 por todo o país. A responsabilidade disso foi de “amigos que estavam lá no Rio”, os Paralamas do Sucesso. Naquele momento, os ouvidos do Sul descobriam um novo jeito de se escrever letras e de se cantar. Esse novo modo vinha acompanhado de assinatura: Renato Russo. Não tardou para que Jorge Davidson, o cara que lançara os Paralamas do Sucesso, quisesse lançar também aquela nova joia que surgia na sua frente. Logo em seguida, eram eles, Renato, Dado e Marcelo, que estavam de mudanças para o Rio. Contrato assinado, chance de gravar um disco e a tal história começa a não ser só dos três, mas de uma geração inteira.
Entraram em cena acelerando o andamento da música jovem brasileira. Com ares punks e guitarras distorcidas, assumiam a voz daqueles que tinham crescido sobre o período militar chamando-os de “Geração Coca-Cola”, num texto que punha o dedo na cara dos mais velhos, sem deixar de cutucar a própria ferida. Um misto de desabafo e autocrítica que não poupava ninguém. Mas não eram só isso. Eles também sabiam chegar com canções redondas. “Ainda é cedo” e “Por enquanto” se tornaram duas das músicas mais regravadas por outros artistas nos anos seguintes.
De toda a geração emergida no boom do rock nacional em 1985, a Legião Urbana foi a banda mais venerada pelo público e respeitada pela crítica. Não havia ingenuidade, nem brincadeirinhas nas letras. Por outro lado, o discurso não caía para a facilidade do tom panfletário. Renato era um líder nato. Os arranjos eram simples para não disfarçar as mensagens urgentes. No segundo álbum, Dois, o lado lírico e folk aflorou mais. Se o primeiro trabalho tinha toda a urgência punk-aborto-elétrico, aquele era  o contraponto, a visão complementar de um trovador que já não era mais solitário. Estava claro para todo mundo o que era, de fato, a Legião Urbana. O rock poderia ser popular, poderia falar de amor, poderia dar à música brasileira uma pá de grandes canções.
No terceiro disco, Que País É Este 1978/1987, a Legião amarrou de vez a ponte entre o Aborto Elétrico e o Trovador Solitário, gravando várias faixas que circulavam na obra daqueles trabalhos anteriores de Renato. Da violência naturalista de “Que país é este?” à singeleza romântica de “Eu sei”, a Legião era a síntese daquilo tudo: o ápice criativo de Renato e o rebuscamento de Dado e Bonfá (Nesta época, eles ainda contavam com Renato Rocha, o Negrete, baixista que entrou no grupo à época da gravação do primeiro disco e saiu depois deste terceiro trabalho).
Os primeiros anos sem o comando militar ainda eram marcados pela sombra que o governo de José Sarney representava. Para piorar, o fracasso das duas versões do Plano Cruzado provocavam um caos econômico no país e uma falta de perspectivas reais. As tintas que refletiam isso estavam sempre presentes nos trabalhos da Legião Urbana. Em momentos como aquele, elas pareciam tomar mais destaque. O rock brasileiro ainda sofria questionamentos quanto à sua legitimidade cultural, acusado de ser apenas uma importação anglo-saxônica, sem originalidade. Na esteira da resposta a esses críticos, os Paralamas tinham acabado de estourar “Alagados”, um hit cheio de referências caribenhas, nordestinas, com uma letra abraçada por todas as camadas sociais do país. A Legião faria mais e colocaria a saga de vida e morte de um nordestino, cantada em forma de repente, com enredo de história de cordel e nove minutos de duração, para ser a música mais tocada do país. “Faroeste caboclo” se tornou um marco da década de 80 e a Legião Urbana assumia, definitivamente, o posto de maior banda do Brasil.
Apesar e por causa da reação ensandecida dos fãs, as turnês do grupo não eram longas. O imenso circo que era preciso se formar para cada show tornava aquele ritual um tanto quanto incômodo. Emocionalmente também era tudo muito intenso e desgastante. Renato, por ser o líder em quem os fãs depositavam tantas expectativas, sofria ainda mais com aquilo tudo. O apogeu dessa catarse coletiva aconteceu em 18 de junho de 1988, em Brasília. Durante o show que marcava a volta da banda à cidade, os portões do estádio Mané Garrincha foram abertos, na tentativa de conter os que não conseguiram comprar um dos 50 mil ingressos postos à venda. Com a tensão no ar, uma série de confusões se sucederam. Violência policial, discursos inflamados, bombas caseiras e a invasão do palco por um fã alucinado que se agarrou violentamente ao vocalista. O cenário de caos terminou com a suspensão da apresentação e mais confusão. Cerca de 50 pessoas foram presas, mais de 300 ficaram feridas e uma série de péssimas lembranças como resultado. A turnê foi suspensa e, a partir dali, a Legião se voltaria ainda mais para os estúdios.
Meses depois daquele show, eles retomaram os trabalhos que dariam luz a As Quatro Estações. Estavam convencidos de que os tempos eram outros e que o processo de espiritualização individual era um caminho mais efetivo para mudanças do que os brados punks de 1978, afinal dez anos já haviam se passado. A obra de Renato Russo e, por consequência, da Legião Urbana circulava pelas fronteiras entre a ética pública e a ética privada, como definiu Arthur Dapieve no livro “Renato Russo, o Trovador Solitário”. Seja na condução do país, da coisa pública, dos meios de comunicação ou na sinceridade e respeito aos sentimentos individuais, era preciso disciplina, compaixão, bondade e coragem. Neste disco, lançado em 1989, essas esferas da vida de todo cidadão eram rediscutidas. Juntando Camões com a filosofia de textos bíblicos e budistas, a poesia de Renato chegava ao auge da forma e se tornava ainda mais precisa sobre os problemas do seu tempo. Do desgaste das relações familiares à Aids, da intolerância e dos preconceitos sexistas ao amor romântico idealizado e inatingível, a Legião Urbana encerrava os anos 80 traçando o panorama daqueles tempos e jogando luzes de esperança para dias tão sombrios.
Essa tal esperança que aparecia em As Quatro Estações coincidia com a que alimentava o processo eleitoral brasileiro. Pela primeira vez em quase trinta anos, o país voltava a vivenciar uma escolha democrática de presidente da Repúbica. O fracasso da era Sarney se redimia pela certeza de que, em breve, o povo brasileiro voltaria a ser senhor da sua história. Só que a expectativa virou trauma. Não havia mais ninguém em quem se pôr a culpa pela escolha de Collor e o preço que se pagava era caro. A cada hora que se passava, se envelhecia dez semanas. A apatia e o marasmo, frutos da incredulidade frente ao que se vivia, eram refletidos pelo novo trabalho do grupo. Em V, Renato voltava a fazer uso das figuras medievais e rômanticas, agora com mais ênfase, para tratar da tal esfera pública e se aproximava mais da simplicidade, delicadeza e despretensão ao falar das relações pessoais. A saída da falta de perspectivas para o cenário do país estava numa melhor condução das relações cotidianas. Bonfá e Dado também passavam por um processo criativo rico e as músicas da Legião ganhavam novas formas e dinâmicas. Os arranjos eram mais complexos e novos instrumentos apareciam. Antes da gravação deste disco, Renato se descobrira infectado pelo vírus HIV.
O surgimento da MTV criara a necessidade de as bandas investirem em videoclipes de divulgação, coisa que a Legião Urbana não era muito chegada desde as experiências frustrantes na década de 80. Para suprir essa exigência de marketing, o grupo se dispôs a gravar versões acústicas das canções do álbum para um especial da emissora. Assim, ficariam – que maravilha! – livres da obrigação dos clipes. Na época, 1992, o programa da MTV não representava tanto como veio a ocorrer anos depois. Tanto é que os registros feitos pela Legião só foram lançados comercialmente em 1999.
A turnê de V seria a maior e a mais pretensiosa da Legião Urbana. Um grande show foi preparado, mas a excursão foi interrompida cedo. A dependência química de Renato não aguentou o tranco causado pela exposição que a estrada trazia e as relações internas na equipe ficaram estremecidas após um show em Natal. A turnê foi interrompida no meio e a saída foi lançar um álbum duplo de gravações feitas ao longo dos anos e que se tornou o primeiro registro ao vivo da história do grupo. Música para Acampamentos chegou às lojas ainda em 1992 e tapou o buraco até que a banda retornasse para o disco seguinte. Neste período, Renato iniciou seu processo mais intenso de reabilitação e tratamento.
Em 1993, Fernando Collor já tinha renunciado diante da pressão da opinião pública. A ressaca e a incredulidade se misturavam a algum resquício de esperança pós-impeachment, mas a situação ainda era instável demais. Renato se incomodava com o que os jovens, seus fãs – por quem sempre nutriu muito respeito e preocupação – viviam. Para ele, a juventude brasileira era muito maltratada e não tinha razões para sorrir diante de um país em crise, da falta de empregos, da hiperinflação, da instabilidade política e de tantas mentiras. Nesta mesma época, o rock havia sido alijado dos mesmos meios de comunicação que o sugaram na década anterior. Para muitos, V é uma das principais obras de arte feitas sobre os anos Collor. Um dos grandes méritos da Legião Urbana foi nunca ter feito da esperança um artifício pálido. Ela sempre deu as caras na obra da banda, mas retratada em meio ao caos que a cercava e ao qual ela resistia. Um sentimento que nunca foi banalizado e por isso mesmo seguia real e forte.
Em O Descobrimento do Brasil lá estava ela novamente. No sexto disco de estúdio (sétimo na carreira), a Legião Urbana voltava mais serena que em V. Os novos arranjos eram menos arrastados e tinham mais dinâmica. Logo pela capa se via que era um disco com mais cores do que o anterior. Renato estava certo de que só pelas relações de afeto puro, seja ele numa relação familiar, sexual ou de amizade, se poderia atingir o equílibrio. Ele pregava isso em meio às suas desilusões e expectativas. Não era, contudo, um disco sorridente. Isso não caberia. Nas cinco partes de “Perfeição”, a pena do poeta rasgava a seda da apatia –  ainda resquício da era Collor – com um dos textos mais contudentes sobre aqueles tempos. A Legião Urbana levantava o dedo para o cinismo das falsas alegrias, típicas da cultura midiática ufanista que se tem no Brasil e que sempre foi usada para mascarar tantas das nossas tragédias sociais. Ainda assim, a canção terminava olhando pra frente, com algum otimismo: “nosso futuro recomeça/ venha, que o que vem é perfeição”.
Afora isso, em grande parte das letras de O Descobrimento do Brasil, Renato discorre, por uma perspectiva muito pessoal, sobre uma série de idealizações. Novamente, elas eram ligadas ao imaginário de uma vida mais simples e comum, com a diferença de que isso, neste disco, já lhe parecia fugir às mãos. Tinha a tal esperança, mas não era necessariamente um discurso confiante. O tal equilibrio buscado por ele vinha revestido por ora nostalgia ora por raiva ou, às vezes, por resignação. Dado e Bonfá lhe ofereciam algumas das melhores músicas que já haviam feito, como “Love in the afternoon” e “Giz”.
A turnê daquele disco, que seria a última do grupo, também foi interrompida por incidentes em uma das apresentações. Em janeiro de 1995, em Santos, depois de ser atingido por um objeto atirado pela plateia, Renato levou o show deitado por mais 45 minutos até encerrá-lo. A Legião Urbana deu um tempo novamente.
Na sequência, Renato cuidou de sua carreira solo e lançou dois discos, “The Stonewall Celebration Concert” e “Equilíbrio Distante”. A banda voltaria a se reunir um ano depois do episódio em Santos para gravar um novo disco. Tanto tempo sem trabalharem juntos lhes rendeu muito material original e o processo em estúdio gerou registros suficientes para se lançar um álbum duplo. A ideia foi descartada em razão do alto preço que um produto desses teria nas lojas. Devido ao agravamento de sua doença, Renato estava frágil e não podia passar muito tempo nas gravações. O assunto era tratado com muito respeito e restrições pelos poucos que sabiam do que se passava com o vocalista. Por isso, com o objetivo de tornar aquele momento o mais exclusivo possível, poucas pessoas foram autorizadas a entrar no estúdio. Desta forma, Dado Villa-Lobos comandou a produção do álbum e assinou junto com o grupo.
A Tempestade ou O Livro dos Dias foi lançado em setembro de 1996.  Musicalmente, Dado, Bonfá e Renato tinham um disco mais rock’n roll nas mãos. Renato tinha solidão em sua pena. Quando “A Via Láctea” tocou nas rádios, um alarme soava no ouvido dos fãs: Renato parecia se despedir. Um mês após o lançamento, ele faleceu em seu apartamento. Uma semana após sua morte, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá anunciaram o fim das atividades da banda, mas anteciparam que outros lançamentos de materiais previamente produzidos aconteceriam.
Epílogo
O primeiro deles era também o último registro de carreira da Legião Urbana. O álbum Uma Outra Estação foi lançado em 1997 com as faixas do material que não havia entrado em A Tempestade ou O Livro dos Dias. Nesse disco, Bonfá e Dado buscaram encerrar aquele ciclo de suas vidas e fazer com que ele tivesse o melhor desfecho possível. Não havia como fugir das angústias finais de Renato nas letras que ele deixara, mas era possível não ser funesto.


O disco é uma celebração à vida, que começa com uma apresentação de todos os integrantes da banda, gravada à época do primeiro disco (inclusive com a participação de Negrete) e termina com “Travessia do Eixão”, música que embalava as aventuras da Turma da Colina antes de que o mundo soubesse que ela existia. Ao abrir o encarte do disco, lê-se: “Ouça este disco da primeira à última faixa. Esta é a história de nossas vidas”.
Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá seguiram suas carreiras e lançaram discos solo nos anos seguintes.

BOX LEGIÃO URBANA COM 8 CDs – EDIÇÃO DE LUXO COM FOTOS E TEXTOS INÉDITOS







Legião Urbana






Dois






 
Que Pais é Este






As Quatro Estações






V (Cinco)






O Descobrimento do Brasil






A Tempestade






Uma Outra Estação






Meus discos de Vinil da Legião Urbana:







Este Post eu dedico a todos os fãs da Legião Urbana como eu, e a todos que um dia vão gostar como eu gosto.

Fonte do Texto: www.legiaourbana.com.br